Da marcha dos povos,
e do arrastar dos povinhos
chegam-nos confortos novos
e novos progressinhos.

Mas se a marcha do progresso
é assim de escorreita,
faltarão evidências
para quem dela não se aproveita.

Diz o ditado dos expeditos
que o servo será um dia capataz
ou mesmo proprietário.
Mas então quem fica para trás?
Só mesmo o otário.

Resta então apenas subir
nesta escada dita sem fim,
côa esperança de aterrar um dia
num sofá de marfim.

Não me tomeis por erudito
não sou mais que um pacóvio.
Talvez um tanto exigente,
mas isso é só cansaço e ódio.

Porquê tanta negatividade?
Porque não? perguntu eu.
É ingrato ser-se revolucionário,
quando a revolução já morreu.

E estes versos que aqui escrevo,
nada trazem de novidade,
não passam de uma lembrança,
vestida d'infantilidade.

Sintra, Setembro 2020