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Triunfo da direita radical causa terremoto político na Argentina [1]
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Date: 2023-10
Do ponto de vista das primárias em si, a vitória de Javier Milei não foi uma surpresa, uma vez que era o único candidato de La Libertad Avanza.
Finalmente, no peronismo, o candidato da "unidade" Sergio Massa, um centrista ultrapragmático apoiado pela ex-presidente e atual vice-presidente Cristina Fernández de Kirchner, venceu com folga.
No entanto, Juan Grabois, um populista de esquerda próximo ao Papa Francisco, ganhou o voto de vários kirchneristas de esquerda que relutavam em votar em Massa. Os eleitores de Grabois tendiam a vê-lo como uma espécie de "kirchnerista puro", alguém capaz de recuperar parte da história e do legado do kirchnerismo original, especialmente sua versão cristã.
Uma situação um tanto estranha, uma vez que a própria Cristina Kirchner havia apoiado a candidatura do atual ministro da Economia. A “chefe” apoiou a nomeação de Massa, após a “queda” da candidatura de Eduardo “Wado” de Pedro, atual ministro do Interior pertencente a La Cámpora, grupo ligado a seu filho, Máximo Kirchner, e o mais importante da estrutura cristinista. Depois que um grupo de governadores pediu que o candidato fosse Massa, Fernández de Kirchner deu o aval.
O compromisso ideológico de Grabois constituía, neste sentido, um “cristinismo sem Cristina”: um cristinismo ideológico sem o apoio real da figura a que apelavam ou do líder a que se referiam. Em suma, o único primário desse nome era o de JxC, e aí venceu sua versão de direita.
Este último se conecta com a leitura mais geral da eleição: nunca antes a extrema-direita obteve tantos votos na Argentina: Milei e Bullrich juntos somaram quase metade do eleitorado. A eleição ficou marcada pela morte de Morena Domínguez, uma menina de 11 anos, em 9 de agosto, em um assalto violento como tantos outros que marcam o cotidiano do eleitorado no chamado conurbano bonaerense, e, mais amplamente, por uma crise econômica interminável que se resume em uma inflação de mais de 100% ao ano. Nesse contexto, Bullrich capitalizou sobre a crise de segurança, enquanto Milei capitalizou sobre a crise econômica, apostando em uma proposta de dolarização que remete à era do peronista neoliberal Carlos Menem (1989-1999), quando o valor do peso estava vinculado por lei ao valor do dólar. Nesse quadro, a esquerda que está fora da Unión por la Patria (peronismo e aliados), agrupada em uma frente trotskista, também sofreu um forte revés.
Houve nesta eleição algo do "retorno dos reprimidos" de 2001, um ponto de inflexão na história política argentina. Embora os discursos progressistas tenham prevalecido naqueles dias de saques, protestos em massa e um presidente –Fernando de la Rúa– que fugiu de helicóptero da Casa Rosada, as soluções ultraliberais estavam no cardápio e atraíram um apoio significativo. Não foi por acaso que Carlos Menem proclamou, nas eleições de 2003, a necessidade de passar da conversibilidade para a simples dolarização da economia argentina, historicamente marcada por sua inflação persistente.
O paradoxo de toda essa história é que Bullrich, a ministra mais impopular de De la Rúa na época, renasceu nessas eleições como uma fênix, como uma espécie de salvadora da nação.
Quem mais se conectou com o clima "destituinte", que hoje não tem massas nas ruas mas sim muita frustração social, é Milei. O libertário não só importou a ideologia paleolibertária do americano Murray Rothbard – cujo anarcocapitalismo o leva a defender a compra e venda de órgãos – como também a denúncia da "casta" como eixo da campanha, emprestada do partido de esquerda espanhol Podemos. Milei, que recebeu o apoio de Jair Bolsonaro após as primárias, usou canções do rock argentino adotadas anteriormente pela esquerda (como as de La Renga ou Bersuit Vergarabat) e até mesmo o "hino" de 2001: o refrão "Que se vayan todos... que no quede ni uno solo” (algo como, "Fora com todos eles... que não fique nenhum"), que ressoou de forma estrondosa em seu ato de encerramento da campanha.
[END]
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