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Existe uma ‘terceira via’ para o Brasil?

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Date: 2021-12

O retorno político do ex-juiz da Lava Jato e ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Sergio Moro, foi calorosamente recebido por defensores da terceira via. Em abril de 2020, Moro renunciou ao cargo de ministro logo após acusar Bolsonaro de tentar interferir no trabalho da Polícia Federal e obter acesso à informação confidencial ao nomear um confidente como diretor-geral. No início de novembro, Moro oficialmente entrou na arena política ao se filiar ao Podemos, um partido de direita que votou principalmente a favor das propostas legislativas do governo Bolsonaro. Dias depois, Moro confirmou sua intenção de concorrer à presidência em entrevista a Pedro Bial.

Parece relevante, então, examinar como a terceira via está politicamente situada. Quase uma dúzia de pessoas está disputando a eleição. Alguns dos prováveis porta-estandartes da terceira via, incluindo Moro, Doria e o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, são ex-aliados de Bolsonaro. Eles são vistos por partes da sociedade e pela imprensa como representantes de uma direita política moderada que está disposta a negociar com o centro e até mesmo com a centro-esquerda. É por isso que os entusiastas da terceira via acreditam que eles simbolizam esperança e mudança para o país. Mas vale a pena perguntar quão alternativo ou mais moderado esse candidato de terceira via realmente seria. Algum desses homens realmente ofereceria uma alternativa distinta a Bolsonaro, seu antigo aliado?

Por enquanto, é seguro dizer que nem tudo está perdido para Bolsonaro, que ainda pode recuperar alguns de seus eleitores desencantados. Lula não está necessariamente se beneficiando da impopularidade de Bolsonaro, porque parte do eleitorado rejeita veementemente os dois candidatos. Caso uma terceira via não ganhe força, os eleitores podem ter que escolher aquilo que consideram o menor dos males.

Também é importante pontuar que a grande mídia brasileira está fracassando em mostrar a natureza assimétrica da dinâmica polarizadora dos dois principais candidatos atuais. Em contraste com o discurso geralmente incendiário de Bolsonaro, Lula fala de unidade nacional e política conciliatória. Descrever Lula como “populista”, como costuma fazer a mídia, é apenas mais uma forma de desacreditá-lo junto com seu apelo popular, já que o termo tem conotações pejorativas no linguajar cotidiano do país. Também cria uma falsa equivalência entre um candidato moderado de esquerda, com um partido que se inclinou cada vez mais para o centro durante seu governo, e um presidente populista de extrema-direita. A criação dessa falsa equivalência e, portanto, de uma suposta polarização entre dois lados desigualmente lançados nessa dinâmica, acaba beneficiando o lado extremista – que se alimenta do cenário político polarizado para se sustentar.

Muita coisa ainda pode mudar no horizonte de (im)possibilidades políticas do Brasil até as eleições do próximo ano. Resta saber se Lula continuará mantendo a liderança contra o Bolsonaro ou se surgirá um terceiro candidato. Na mais recente pesquisa do Atlas Político, Moro ganhou o terceiro lugar nas intenções de voto dos brasileiros, atrás de Lula (que ampliou sua vantagem) e Bolsonaro (que recuou mais ainda). O certo é que as apostas nunca foram tão altas para os brasileiros, depois de uma pandemia e diante da devastação ambiental, do aprofundamento da crise econômica, da insegurança alimentar e do aumento do desemprego.
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[1] Url: https://www.opendemocracy.net/pt/existe-uma-terceira-via-para-o-brasil/
[2] url: https://creativecommons.org/licenses/by-nd/4.0/

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