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Derrota dos EUA no Afeganistão marca o fim do neoliberalismo

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Date: 2021-08

A era neoliberal, que começou quando os Estados Unidos perderam a guerra do Vietnã, terminou com os Estados Unidos perdendo a guerra no Afeganistão. E a guerra contra o terrorismo. E a guerra contra as drogas.

A linha do tempo conta uma história horrível para aqueles que enfrentam massacres e subjugação pelo Talibã. Mulheres, xiitas e qualquer pessoa que tenha colaborado com as forças dos EUA e do Reino Unido, ou com o regime local agora essencialmente derrotado, enfrentam um futuro sombrio, pois os "hooligans do absoluto", como o pensador político Tom Nairn os apelidou, assumem o controle do país uma vez mais.

Não posso deixar de pensar nos afegãos que conheci em um campo de refugiados em Belgrado em 2015. Um homem foi baleado na perna enquanto servia no exército nacional ao lado das tropas britânicas e levado para um hospital em Cardiff, onde passou um ano se recuperando. Depois de ter seu asilo negado, ele foi enviado de volta ao Afeganistão. Sabendo que o Talibã mataria ele e sua família, ele fez fez outra vez no trajeto à Europa em sua perna fraca, com sua irmã e seus sobrinhos.

Eles ficaram presos na fronteira da Europa? Foram mortos? Tentei entrar em contato pelo Facebook, mas não tenho ideia do que aconteceu com eles.

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Não posso deixar de pensar nos 32 mil requerentes de asilo afegãos que o Reino Unido rejeitou desde 2001, como o openDemocracy revelou recentemente. Os aviões de deportação da Grã-Bretanha os entregaram aos pelotões de fuzilamento?

Não posso deixar de pensar em minha avó, que tinha quase 90 anos quando a invasão da OTAN começou em 2001. “Não aprendemos a lição na segunda guerra afegã?” ela me perguntou na época, quando eu era adolescente, referindo-se à invasão britânica em 1878, apenas uma geração antes da sua.

Não posso deixar de pensar nos relatos da primeira guerra anglo-afegã, em 1839, quando a Grã-Bretanha invadiu, foi expulsa e voltou a invadir o país como "vingança" – assassinando, estuprando e matando aldeias inteiras de fome por onde passou, para que eles pudessem transformar esta sociedade humana em uma zona de amortecimento para sua colônia indiana. Esta não é uma história de 20 anos – é uma história de 200 anos.

Não posso deixar de pensar na guerra contra as drogas. Se, em vez de criminalizar a heroína e jogar os produtores de papoula da Ásia Central nas mãos do Talibã, nós a tivéssemos legalizado e regulamentado, onde estaríamos?

Não posso deixar de imaginar por que tantos adolescentes e jovens que não conheceram outra realidade além da ocupação da OTAN estão tão desesperados para derrubar o governo a ponto de se aliarem a combatentes estrangeiros para massacrar seus vizinhos.

E não posso deixar de me maravilhar com o fracasso da imprensa ocidental em fazer essas perguntas. Vinte anos de guerra – vinte anos de suposta construção de uma nação pelo que começou como a aliança mais poderosa da história humana – foram varridos em questão de dias.

A era neoliberal acabou. E como vemos em Cabul hoje, o que vem a seguir não é inevitavelmente melhor.

O neoliberalismo realmente acabou?

Tem havido um certo debate nos últimos tempos sobre se o neoliberalismo está morrendo ou mudando. Eventos como o G7 deste ano que, pelo menos em teoria, concordou com um imposto corporativo mínimo global, encorajou o historiador econômico Adam Tooze a dizer que o consenso da elite em torno do neoliberalismo como uma ideia acabou.

Tão significativo quanto, como o co-fundador do openDemocracy Anthony Barnett apontou, o ápice do neoliberalismo foi definido por uma negação nos círculos da elite de que tal coisa existisse. “Você também pode debater se o outono vem depois do verão”, argumentou Tony Blair em 2005, contra aqueles que desejavam discutir a globalização dos mercados ocidentais.

Não se tratava de uma ideologia, eles diriam, apenas de lógica, o jeito que as coisas são, apenas a realidade. Hoje em dia, até o Financial Times está começando a questionar se o neoliberalismo funciona – sim, usando essa palavra – e os grandes think tanks da ideologia voltaram a usar o termo. A ideia não é mais o bom senso puro e simples – ela precisa ser defendida.

A jornalista econômica Grace Blakeley acredita que o neoliberalismo está vivo e prosperando, no entanto. Escrevendo no Tribune em maio, ela argumentou: “O estado neoliberal não é um Estado pequeno, é um Estado projetado para atender aos interesses do capital”. Os investimentos de resgate da Covid-19, ela conclui, não significam o fim do neoliberalismo. “Os Estados estão gastando mais dinheiro porque as grandes empresas e as grandes finanças precisam ser resgatadas – de novo.”
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[1] Url: https://www.opendemocracy.net/pt/derrota-eua-afeganistao-marca-fim-neoliberalismo/
[2] url: https://creativecommons.org/licenses/by-nd/4.0/

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