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Venezuela: estratégias para sobreviver no limite
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A título de conjectura e com base na opinião de diversas pessoas beneficiárias deste tipo de políticas, poderíamos supor que através de subsídios, uma pessoa chega a receber entre 5 e 15 dólares por mês, mas sem a regularidade de uma renda fixa. Os valores também podem variar drasticamente de mês para mês sem explicação. Além disso, algumas pessoas que, mesmo estando cadastradas na plataforma, nunca receberam o auxílio, apesar de estarem em situação precária.
A família de Laura é composta por quatro pessoas. Ela, de 44 anos, está desempregada. O marido, de 50 anos, não tem emprego estável e as duas filhas mais novas, de 11 e 8 anos, estudam em escola pública. Moram na periferia de Higuerote, cidade litorânea turística do estado de Miranda. Laura se define como oponente do governo, enquanto seu marido, embora com muitas críticas e quase envergonhado, afirma ser chavista.
Eles tinham um pequeno restaurante junto com a mãe de Laura na mesma cidade. O negócio entrou em colapso quando, em 2017, a crise econômica e, sobretudo, a escassez de suprimentos praticamente acabou com toda a atividade econômica sem margem de resistência. Desde então, Laura só consegue trabalhar ocasionalmente na limpeza das colônias de férias da região, frequentadas por pessoas ricas, quase todas de Caracas e ligadas direta ou indiretamente ao governo.
Seu marido, após a falência do restaurante, trabalhou como funcionário em um iate de "um cara do PSUV [Partido Socialista Unido da Venezuela]", mas renunciou há poucos meses devido a tratamento degradante contínuo e baixa remuneração (100 dólares mensais). Hoje em dia, ele tenta conseguir algum dinheiro com a venda de guacucos, um pequeno molusco que ele extrai manualmente e com muito trabalho da orla da praia, com o qual pode chegar a receber cerca de 25 dólares por semana. Também oferece seus serviços fazendo "o que for" nos empreendimentos de férias da região.
Com um toque de amargura, Laura diz que eles passam por diversas limitações e adversidades, mas que não se atrevem a sair do país devido às experiências traumáticas de algumas pessoas que ela conhece. O medo de viver em piores condições no exterior do que em seu país os inibe de tentar essa alternativa, embora não a descartem. Laura quase sempre recebe o subsídio do governo. O marido dela, nunca. Eles recebem a sacola CLAP, mas “praticamente só contém carboidratos e em pouquíssima quantidade”.
Oscar tem 72 anos. Ele mora sozinho, um aspecto de sua vida de que não fala. Ele tem uma filha de 23 anos, casada e com um filho, que mora na mesma cidade. Ela é bombeira. Eles praticamente não têm comunicação. Oscar sofre de câncer de próstata de crescimento lento e uma hérnia inguinal que o impede de se mover livremente. Ele foi taxista a vida toda, mas entre sua situação de saúde e o aumento do custo das peças automotivas, teve que abandonar a profissão e vender seu veículo porque não conseguia consertá-lo e trocar os pneus. Hoje vive quase exclusivamente da aposentadoria e dos subsídios que o governo deposita através da plataforma Patria, da sacola CLAP e da comida que os vizinhas lhe dão regularmente.
Embora sua situação seja objetivamente precária, ele não fala mal do governo. Com claros sinais externos de desnutrição, ele está convencido de que sua única chance de sobreviver está associada à ajuda do governo, mesmo que não seja suficiente para seus remédios e que o sistema público de saúde não o atenda simplesmente porque faltam suprimentos.
[1] Url:
https://www.opendemocracy.net/pt/venezuela-estrategias-para-sobreviver-no-limite/