This story [1] was originally published on OpenDemocracy.net/en/.
   License: Creative Commons 4.0 - Attributions/No Derivities/
   international.
   --------------------------------------------------------------


A Colômbia não para e não parará de protestar
By:   []
Date: None

Desde a última vez que o openDemocracy relatou o que estava acontecendo na Colômbia, há exatamente uma semana, as coisas não melhoraram. Os confrontos entre manifestantes e a força pública não param. E o governo continua tentando encontrar uma forma de acabar com a greve, sem sucesso.

Durante o fim de semana, as cidades continuaram protestando, especialmente Cali. No domingo, La Minga, guarda indígena ancestral do Cauca, foi acusada de violência contra civis. De noite, vídeos circularam nas redes sociais mostrando como civis de Cali saíram de caminhões e carros com as placas cobertas e começaram a atirar em membros da Minga, deixando oito indígenas mortos.. Isso, na melhor das hipóteses, deveria preocupar o governo e as organizações internacionais que zelam pelos direitos humanos, já que se trata de um ato inaceitável de paramilitarismo.

Nesse mesmo dia, após os acontecimentos narrados, o Noticias Caracol, um dos dois maiores noticiários do país, divulgou uma notícia em que diziam que “cidadãos e indígenas se enfrentaram”, promovendo uma divisão que não faz sentido. Embora as diferentes etnias indígenas tenham suas próprias leis e vivam em territórios isolados das cidades, seus integrantes são cidadãos colombianos e destacar essa divisão só enfatiza a estigmatização que os povos indígenas sofrem há anos. Da mesma forma, o presidente Iván Duque disse que voltassem às suas “reservas”, já que não podia garantir sua proteção. Além disso, o presidente do Partido Conservador, Omar Yepes Alzate, exaltou que as organizações indígenas estavam deixando seu “habitat natural” para perturbar o calma dos cidadãos. Essas posições indicam o racismo estrutural que se tornou normal na Colômbia.

Dos manifestantes caminan, con los brazos arriba, hacia la policía. | Gus Peppervisuals.

O tratamento dado à Minga atiçou os sentimentos dos manifestantes, que reagiram mantendo-se nas ruas, apesar do apelo de políticos e organizações que acompanham as marchas de que a violência aumenta durante à noite. Na madrugada, Duque foi a Cali para tentar acalmar os ânimos, mas aparentemente só agravou o sentimento dos colombianos que cobraram por ele não ter ido antes, por ter sitiado Cali e por ter ido apenas algumas horas. O presidente havia dito que não queria "atrapalhar os processos da força pública”.

Os dias que se seguiram foram marcados por uma notícia de dor e surpresa: Lucas Villa, um jovem de 37 anos que se destacou por de manifestar pacificamente, cantando e dançando, teve morte cerebral de receber oito tiros, em 8 de maio, disparados de um carro que ainda não foi identificado. No dia seguinte, 12 de maio, Duque viajou a Cali para tentar dialogar com os líderes da greve nacional e anunciou que os alunos dos estratos 1, 2 e 3 terão acesso à educação universitária pública gratuita. É uma notícia que a Colômbia esperou por anos. No entanto, polarizou a população, que acredita que a decisão é apenas uma estratégia do governo de pôr fim às manifestações e não uma tentativa real de resolver os problemas do país.

Mas por que tanta indignação? Definitivamente, não é apenas por causa da reforma tributária que deu início à greve atual. Os colombianos denunciam um problema estrutural que se aprofundou devido à narrativa que tanto os políticos quanto a mídia tradicional construíram: a de que o povo é violento e que qualquer tipo de protesto é equivalente a vandalismo. Como diz a professora do mestrado em Filosofia da Universidade de los Andes, Laura Quintana, em entrevista ao openDemocracy, “Embora seja uma economia que teve estabilidade internacional, ela gerou grandes dívidas com a população. Os programas econômicos reduziram o Estado a um instrumento que garante estabilidade ao investimento estrangeiro, mas que tornava o povo mais precário”.

[1] Url: https://www.opendemocracy.net/pt/colombia-no-deja-y-no-dejara-de-marchar-pt/