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'Fora garimpo, fora Covid': os Yanomamis se defendem
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Alguns anos depois, em 1987, Romero Jucá, então presidente da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), trouxe um indigena de outra etnia para assinar um acordo de entrada dos garimpeiros em nosso território. O indígena diz, registrado em vídeo, que o progresso deveria ser trazido para os indígenas para o "sustento da família". Os desejos expressos por ele, que veio de longe se dizer representante do que nós queríamos, não eram os mesmos dos nossos. Não eram e nunca vão ser.

O período entre 1987 e 90 foi chamado de "corrida do ouro". Muita gente entrou no território atrás de garimpo; o tráfego aéreo aumentou ainda mais. A famosa "Estátua do Garimpeiro" foi construída no centro de Boa Vista, capital de Roraima, simbolizando a força do garimpo na economia do estado. Para nós, o símbolo do estado jamais deveria ser este quando temos aqui verdadeiras riquezas como o Monte Roraima. Por conta da doença levada pelos garimpeiros às aldeias neste período, mais de 20% da população Yanomami morreu. Calcula-se que estiveram em nossa terra aproximadamente 40 mil garimpeiros para 10 a 15 mil Yanomamis.

Fora garimpo, fora Covid

O início das mobilizações de Davi Kopenawa, nossa maior liderança até hoje, começou com a Assembleia Constituinte. Davi deixou sua aldeia para falar com as autoridades, dizer que invasões estavam acontecendo e que os Yanomami estavam morrendo. A resposta do governo é que não tinha recurso para resolver essa situação.

Davi Kopenawa buscou apoio de uma organização não governamental para iniciar manifestações internacionais na Organização das Nações Unidas (ONU) e em embaixadas do Brasil pelo mundo todo. A partir dessa mobilização, missionários tomaram a iniciativa de entregar carta dos Yanomami na ONU com mais de 150 mil assinaturas pedindo pela demarcação de nosso território. Foi a ONU que liderou uma campanha que garantiu recursos para demarcação da Terra Indígena Yanomami. E hoje, com mais de 400 mil assinaturas na campanha "Fora Garimpo, Fora Covid", queremos garantir a mesma repercussão internacional, pois precisamos, mais uma vez, do reconhecimento da sociedade não indígena sobre a importância da nossa luta pela sobrevivência e pela vida.

O dia 25 de maio de 1992 marca um importante capítulo da história de nossa luta pela terra. A Terra Yanomami foi homologada durante o mandato do presidente Fernando Collor – quem diria. A princípio, o território seria dividido em 19 "ilhas", justamente para deixar de fora da Terra Indígena a riqueza de minérios que atrai garimpeiros.

1993 ficou marcado pelo Massacre de Haximu, que consideramos como o início do genocídio do povo Yanomami. Garimpeiros contrataram 17 yanomamis para fazer o trabalho pesado de carregamento por alguns dias. Ao final do dia de trabalho, os garimpeiros ofereceram comida para os trabalhadores. Um deles, que havia se afastado do grupo, ouviu de longe os tiros que deixaram todos os seus companheiros mortos. Foi perseguido e chegou a levar um tiro na perna, mas é graças a ele que temos conhecimento sobre essa história hoje. Os Yanomami, atrás de retaliação, foram ao local, mas só encontraram os corpos de seus parentes e o acampamento do garimpo abandonado. Foi o apoio internacional que conseguimos e a mobilização gerada pelo massacre que pressionaram a Polícia Federal a acompanhar a operação e começar uma investigação mais de perto sobre a questão dos garimpos na Terra Indígena Yanomami.

[1] Url: https://www.opendemocracy.net/pt/fora-garimpo-fora-covid-os-yanomamis-se-defendem/