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A indústria do conhecimento que alimenta o mito Jair Bolsonaro
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Diferentes pesquisas recentes indicam que o presidente Jair Bolsonaro é o favorito na corrida presidencial de 2022. O presidente que, em vez de dizer aos cidadãos para evitarem aglomeração de modo a reduzir o contágio pelo coronavírus, nadou em meio a uma multidão no primeiro dia do ano. O presidente que, em meio a uma pandemia global, anunciou um conjunto de decretos para facilitar o acesso às armas – afinal os brasileiros têm direito à legítima defesa. A negação da gravidade da pandemia e a lei das armas podem ter arranhado a imagem de Bolsonaro entre alguns de seus eleitores, mas não tanto quanto muitos pensavam. Qual é, então, a explicação para isso?

Uma das possíveis explicações parece vir da pulsante indústria do conhecimento que surgiu em apoio à cruzada de Bolsonaro contra a esquerda. Semelhante a outros indivíduos comprometidos com uma agenda populista de direita radical, o presidente brasileiro semeia a descrença nos materiais educativos disponíveis nas universidades e escolas públicas. Segundo ele, ideias marxistas se tornaram dominantes no sistema educacional brasileiro, formando cidadãos que acreditam na igualdade de direitos, independentemente de gênero, raça e orientação sexual. Sendo ele cristão, essas ideias significam a destruição da família tradicional. Sendo ele um político de direita radical, essas ideias significam a degeneração da sociedade. Nesse sentido, o que Bolsonaro diz ou faz é justificado como um ato de patriotismo. Na verdade, é muito revelador que muitas pessoas se refiram a ele como “o mito”, colocando-o na posição de salvador, quase uma figura divina que é capaz de limpar o país de seus problemas mais urgentes, que segundo ele, estão diretamente associados às ideias progressistas disseminadas pela esquerda.

Portanto, não é surpresa que muitos outros brasileiros decidiram embarcar nesta missão patriótica para mostrar ao público que a esquerda é responsável pela corrupção, pelos altos índices de criminalidade e pela destruição da tradicional família brasileira. Nessa construção da esquerda como inimiga, uma teoria da conspiração tornou-se instrumental não só no Brasil, mas também internacionalmente. Ela é mais conhecida como marxismo cultural.

A ameaça representada pela esquerda: o marxismo cultural

Muitos pesquisadores da direita radical já estão familiarizados com esse termo na medida em que ele é frequentemente usado para culpar a esquerda pelo pensamento progressista e pela defesa dos direitos das minorias, equiparando-o à criminalidade, destruição da família tradicional e, em alguns países, à redução da população branca. O termo marxismo cultural é bem conhecido nos Estados Unidos e Europa, mas ele também ganhou espaço na América Latina e, particularmente no Brasil, a luta contra “marxistas” vem sendo legitimada por Bolsonaro.

[1] Url: https://www.opendemocracy.net/pt/industria-conhecimento-alimenta-mito-jair-bolsonaro/